11 maio 2007

Frank Capra - o nome acima do título (2ªparte)

Os meus primeiros quarenta anos de vida eram já coisa do passado. Quarenta anos vividos como só na América acontece: quarenta anos que começaram com um ódio de infância pela América.


















A primeira afirmação científica jamais proferida pelo Homem é atribuída a um filósofo da Grécia antiga, que disse: “O Homem não poderá nunca banhar-se nas mesmas águas de um rio que corre sem parar”. Um realizador não pode, tão-pouco, voltar uma segunda vez à mesma Hollywood que conhecia. Depois de uma ausência de quatro anos, a mudança era espantosa. Não conhecia quase ninguém. Os novos rostos eram mais jovens, mais descarados, mais inebriados pelo êxito. Era extremamente desconcertante ser apresentado a uma actriz ou a um realizador que começava a fazer nome e ouvi-los perguntar: “Frank quê?”
Quatro anos antes, Hollywood era a minha cidade. Quando eu tocava, toda a gente dançava ao som da minha música. Era presidente de tudo. E agora, aqueles garotos mal saídos da adolescência atreviam-se a perguntar: “Frank quê?”.
A Agência Berg – Allenberg não tinha agora contratos mirabolantes para oferecer-me. Não tinha, aliás, contrato de espécie nenhuma. Teria passado de moda o tipo de cinema que eu fazia?
Como já aqui foi dito, os anos da guerra foram anos de expansão – e, no mundo do espectáculo, a expansão é um veneno que mata a qualidade.






















Estava-me perfeitamente nas tintas para que os críticos gostassem ou não de Wonderful Live. Para mim, era o meu melhor filme. Melhor ainda: nunca ninguém tinha, até aí, feito um filme melhor que aquele. Não fora feito para agradar aos críticos, sempre tão enjoados, ou a esses intelectuais sempre tão cheios de pergaminhos. Era o meu tipo de filme, dedicado ao meu tipo de pessoas; o filme que sempre tinha querido fazer desde o dia em que, pela primeira vez, espreitei por uma câmara num ginásio judeu de São Francisco.













Um filme para dizer aos desencantados e aos desiludidos, ao ébrio, ao drogado e à prostituta, aos que estão encerrados numa prisão e àqueles que se sentem prisioneiros de uma qualquer Cortina de Ferro que não há seres humanos falhados, que todos são válidos!
















Um filme destinado a provar àqueles que nasceram lentos no corpo ou no espírito, às irmãs mais velhas condenadas a tomar conta dos mais novos e a ficar eternamente solteiras, aos irmãos mais velhos condenados ao trabalho da terra e para sempre privados de educação, que cada ser humano é único e irrepetível para muitos outros seres humanos. E que a sua ausência, a sua falta, seriam, para esses outros, um vazio difícil de preencher.
Um filme feito para dizer aos perseguidos, aos espezinhados, aos pobres e deserdados: “Levanta a cabeça. Nenhum homem é pobre desde que tenha um amigo. E se tiveres três amigos, és podre de rico!”




























O cinema não é uma profissão em que se possa envelhecer com dignidade. É um jogo violento, onde as paradas são elevadas, um jogo de palpites e decisões corajosas que nenhum computador pode tomar por nós. A patina da sensatez, da sabedoria, que naturalmente se deposita em nós depois de uma longa travessia da vida é, paradoxalmente, um factor de desvantagem. Em Hollywood, tudo anda depressa, tudo acontece depressa, tudo desaparece ainda mais depressa – e aqueles que pensam são, naturalmente, os que mais depressa desaparecem. Daí, a questão humilhante que fui obrigado a pôr-me quando pensei em fazer um novo filme: teria eu perdido a capacidade de tomar decisões rápidas?














Porque tudo na vida pode ser um filme, tudo na vida pode ser Como no Cinema

Como no Cinema
Frank Capra – O nome acima do título
(2ª parte)

Pela primeira vez disponível na Internet:
DOWNLOAD

Depoimentos:
João Lopes
João Bénard da Costa

Textos:
Frank Capra (Auto-biografia «O Nome Acima do Título»)

Narração:
Mário Dias

Vozes:
Baby Sandy & Mister-X

Assistência Técnica:
João Félix
Herlander Rui
Pedro Vieira
Paulo Canto e Castro
Francisco Raposo

Sons dos filmes: «It’s a Wonderful Life»; «Lost Horizon»

Produção; Montagem (em directo) e Realização:
Francisco Mateus


Tempo total: 42:02 min




















Tal como Anteu (que ganhava novas forças cada vez que tocava no solo), tinha de regressar às raízes para nelas beber, uma vez mais, a coragem de que tanto necessitava. E foi desse regresso às origens, desse reabastecimento de coragem, que surgiu este livro, impertinente tentativa de transmitir àqueles que perderam a coragem, que se debatem na dúvida e no desespero, aquilo que tentei transmitir com os meus filmes: “Meu amigo, não esqueças que és uma amálgama divina de coragem e de poeira de estrelas. Não percas, pois, a coragem, não desesperes. Se as portas se abriram para mim, podem também, perfeitamente, abrir-se para outra pessoa qualquer”.

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Próxima emissão: «Estrada Perdida» (1ªparte)