Saudades do Mar

O Mar sairá
Das nossas ilhas
Das nossas ruas
Das nossas casas
Das nossas almas














No Azul líquido é somente
Um ponto anónimo da carta
Ó minha fala inconsequente!
Saudade morna do ausente
Distante ainda que não parta!

O horizonte é linha de água
Por estrelas-peixe enodoada
Se me recordo em bruma e mágoa
À solidão da ilha trago-a
Dentro de mim petrificada
















Porque tudo na vida pode ser um filme, tudo na vida pode ser Como no Cinema

Como no Cinema
Saudades do Mar

Pela primeira vez disponível na Internet:
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Vozes:
Fernando Alves
Inês Meneses
Aníbal Cabrita

Textos:
Onésimo Silveira
Sophia de Mello Breyner Andresen
Yolanda Morazzo
Daniel Filipe
Mário Fonseca
João Vário
Jorge Barbosa
Gabriel Mariano
Fernando Pessoa

Assistência Técnica:
Alexandrina Guerreiro
Paulo Canto e Castro
Pedro Picoto
Luís Borges

Música:
Silvania
Cesária Évora
Durutti Column
This Mortal Coil
Tim Buckley
Filipa Pais
Mário Delgado
Madredeus
Wunder
KLF
Robert Rich

Sons captados na costa atlântica portuguesa junto ao Cabo Espichel

Produção; Montagem (em directo) e Realização:
Francisco Mateus

Tempo total: 42:19 min














Na noite longa
Minha alma
Chora sua fome de séculos
Meus olhos crescem
E choram famintos de eternidade
Até serem duas estrelas
Brilhantes no céu imenso

E o infinito se detém em mim

Na noite longa
Uma remotíssima nostalgia
Afunda minha alma
E eu choro marítimas lágrimas
Enquanto meu desejo heróico
De engolir céus
Se alarga
E é já céu

Tenho então
A sensação esparsamente longa
De vogar no absoluto

Vinha dum mundo
Sonoro, nítido e denso
E agora o mar o guarda no seu fundo
Silencioso e suspenso

E os corpos espalhadas nas areias
Tremem à passagem das sereias
Das sereias leves de cabelos roxos
Que têm olhos vagos e ausentes
E verdes como os olhos dos videntes

















Navio aonde vais
Deitado sobre o mar?

Aonde vais
Levado pelo vento?

Que rumo é o teu
Navio do mar largo?

Aquele país talvez
Onde a vida
É uma grande promessa
E um grande deslumbramento!

Leva-me contigo
Navio

Mas torna-me a trazer!














As ondas quebram na areia
Dizem segredos perdidos
Saudades da maré-cheia
De barcos de tempos idos

Segredos tristes, lamentos
Que o mar não pôde calar
E foi dizê-los aos ventos
Aos pescadores
Ao luar

As ondas dizem na areia
Saudades de tempos idos
Segredos da maré-cheia
De barcos tristes
Perdidos
















Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar




















Eu, por mim,
Devolverei ao mar
Os sonhos verdes
Que me fez sonhar

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