20 abril 2007

Portugal, que futuro?





















Portugal, eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como se tivesse oitocentos.
Que culpa tive eu que D.Sebastião fosse combater os infiéis ao norte de África – só porque não podia combater a doença que lhe atacava os órgãos genitais – e nunca mais voltasse?
Quase chego a pensar que é tudo mentira… que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do príncipe Valente.
Portugal, não imaginas o tesão que sinto quando ouço o Hino nacional (que os meus egrégios avós me perdoem!).
Ontem estive a jogar póquer com o velho do Restelo. Anda na consulta externa do Júlio de Matos. Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar, à parte do facto de agora me tentar convencer que nos espera um futuro de rosas.
Portugal, um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se contraía a “Febre do Império”, mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado. Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encontrar uma pétala que fosse das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador.
Portugal, se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to. Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir.
Portugal, vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém. Sabes… estou loucamente apaixonado por ti. Pergunto a mim mesmo: como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota como tu, mas que tem um coração doce, ainda mais doce que os pastéis de Tentúgal, e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer à minha vontade.
Portugal, estás a ouvir-me?
Eu nasci em 1957. Salazar estava no poder. Nada de ressentimentos.
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que emigraram… nada de ressentimentos.
Um dia bebi vinagre… nada de ressentimentos.
Portugal, depois de ter salvo inúmeras vezes “Os Lusíadas” a nado na piscina municipal de Braga, ia agora propor-te um projecto eminentemente nacional: que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que o Camões lá deixou.
Portugal, sabes de que cor são os meus olhos? São castanhos, como os de minha mãe.
Portugal… gostava de te beijar, muito apaixonadamente… na boca!























Porque tudo na vida pode ser um filme, tudo na vida pode ser Como no Cinema


Como no cinema
Portugal, que futuro?
(inédito)

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Depoimento:
Fernando Grade

Som histórico: Proclamação da Junta de Salvação Nacional; voz do general António de Spínola

Texto:
Jorge Sousa Braga

Voz:
Fernando Alves

Música:
Kronos Quartet “Verdes Anos”
Jorge Palma “Portugal, Portugal”

Tempo total: 14:48















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Próxima emissão: «Timor-Lorosae»