19 janeiro 2007

Poesia

É noite
É noite e tenho frio
É noite e está escuro
É noite e tenho fome















É noite
É noite e chove
É noite e é Inverno
É noite e vou dormir

















É noite
É noite e estou sozinha
É noite e faz silêncio
É noite e vou-me embora


















Porque tudo na vida pode ser um filme, tudo na vida pode ser Como no Cinema

COMO NO CINEMA
Poesia


Pela primeira vez disponível na Internet:
DOWNLOAD

Voz:
Maria Azenha

Música:
Philip Glass

Interpretações:
Kronos Quartet
Linda Ronstadt
Douglas Perry

Textos:
Salvatore Quasimodo
Maria Azenha

Assistência técnica:
Herlander Rui

Outros textos, Produção, Montagem (em directo) e Realização:
Francisco Mateus

Tempo total: 42:13 min


A série de programas «Como no Cinema» sempre incluiu literatura. Seja em forma de prosa, poesia ou outras. Esta é, no entanto, a primeira emissão exclusivamente dedicada à poesia e a única assim baptizada.
Há em mim uma veia erudita que se alarga à medida que o tempo passa. Vem de há vinte anos quando escutei pela primeira vez a voz de Meredith Monk e, a partir de então, vieram os compositores contemporâneos, os neo-clássicos, os clássicos e muitas das variadíssimas correntes eruditas. Um universo que se alarga e nunca tem fim. Trinta vidas não chegariam para medir tamanha dimensão. Um dos compositores que mais me tem fascinado nesta descoberta é o norte-americano Philip Glass. Aqui, nesta emissão de «Como no Cinema» dedicada à poesia, toda a paisagem sonora é dele, interpretada por ele e também por outros, como por exemplo o fabuloso Kronos Quartet. Os textos de Salvatore Quasimodo (Nobel da literatura em 1959) marcam forte presença, mas a figura central desta emissão é a poetisa Maria Azenha, quer nos textos, quer na voz. Voz única nesta Poesia.
E a veia da erudição já se transformou numa artéria, como será ainda mais evidente na próxima emissão.













Uma história verdadeira
Em Outubro de 1996, Philip Glass estava em Lisboa para uma actuação ao vivo. Seria (e foi) um dos vários concertos que já deu em Portugal. Na véspera, a embaixada dos Estados Unidos preparou uma recepção ao compositor e convocou a imprensa. Eu fui em representação da TSF e tinha como objectivo entrevistá-lo. Enquanto a cerimónia decorria no interior da embaixada, Glass estava na esplanada dos jardins adjacentes e começou a falar comigo em português (com sotaque brasileiro). Muito prestável, muito simpático, dizendo-me: “Eu sei falar em português!”. E sabia. A entrevista era assim feita em Português. Mas logo nas primeiras perguntas, eu disse-lhe que estava a sangrar no rosto, junto à boca. Ele leva a mão direita à cara e constata, dizendo: “Jesus Christ! What´s This?”. O Português, ainda que com sotaque, foi parar às urtigas ali do jardim. Depressa Glass se lembrou que tinha-se barbeado antes de sair dos seus aposentos. O sangue escorria como água queixo abaixo até ao pescoço. De pronto lhe ofereci um lenço milagroso. Philip Glass agarrou-o com firmeza colando-o ao golpe. Sorrindo de alívio e contentamento proferiu a frase lapidar: “You saved my life!”

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Próxima emissão: «Classicismo»